Menu degustação escolhido por nós e ilustrado por minha filha Luiza.
Ano passado, tive a oportunidade de ir ao Paul Bocuse, o restaurante que leva o nome do renomado chefe francês, falecido em 2018.
Na época, o restaurante ainda sustentava por mais de 50 anos, as 3 estrelas Michelin. Todavia, perdeu uma delas em janeiro desse ano.
Quando Paul Bocuse morreu, o ministro do interior da França, Gerard Collomb, fez a seguinte declaração: “Paul Bocuse está morto, a gastronomia está em luto.
Sr. Paul, era a França. Simplicidade e generosidade. Excelência e estilo de vida.”
Para mim, fica a ideia de que ele era mesmo a França. Sua grandiosidade e olhar aguçado para os detalhes, justificam esse título ou essa honra.
Enfim, o fato é que antes de chegar lá, confesso que estava meio apreensivo.
O restaurante, um ícone da gastronomia mundial, me intimidou.
O que vestir? Como me comportar? Será que é um ambiente muito esnobe?
Qual não foi a minha surpresa ver que o lugar, embora pomposo, era muito caloroso.
Para começar, chegamos de ônibus em Collonges-au-Mont-d’Ór, há 20 minutos do centro de Lyon. Atravessamos a ponte e vimos de longe o restaurante de “beira de estrada”(sim, ele fica bem pertinho da estrada dessa pequena vila da França). Muito colorido, é visto de longe. E só de ler o nome Paul Bocuse no topo do restaurante, já emociona.
Muitas foram as coisas que me impressionaram por lá:
A primeira delas foi a forma cordial com que fomos recebidos e encaminhados para a mesa.
Os franceses que têm fama de não serem muito simpáticos, na verdade são muito bem educados e cerimoniosos. Se você responde à altura, sendo solicito também, são muito gentis.
E assim foi do começo ao fim da experiência.
A toalha da mesa, clássica, alva e sem nenhum vinco também me chamou a atenção.
Os talheres, louças e taças, customizados para o restaurante foram outra atração.
E o distanciamento das mesas? Mesmo antes do coronavírus, a distância já era maior do que 2 metros entre uma mesa e a outra, o que te deixa muito à vontade para degustar as delícias do lugar.
O maître, mais gentil, impossível. Assim como os garçons e o sommelier.
Abrimos os trabalhos com uma taça de champanhe.
Vieram os amuse-bouche com dizem os franceses, no caso, canapés lindos e saborosos.
O sommelier sugeriu um vinho branco para dar sequência ao champanhe. Excelente.
Pedimos as entradas: fois gras em diferentes interpretações e escalopes de foi gras. Minha avó era francesa e acho que herdei dela essa preferência por fois gras. E não me arrependi. Derretiam na boca e combinavam perfeitamente com o vinho branco.
E, claro, acompanhados por pão e manteiga dos deuses.
Trouxeram um vichyssoise, uma sopinha tradicional da França, cuja base é feita de alho-poró e batata. A melhor que já degustei na vida.
E aí, sempre com bons intervalos, para você degustar sem pressa as delícias servidas no restaurante, chegou o prato principal.
Pedimos o mais tradicional do restaurante: Loup en Croûte Feuilletée, o equivalente ao robalo aqui no Brasil envolto a uma massa folhada crocante e molho choron, uma espécie de molho béarnaise com adição de molho de tomate.
A excelência do prato, fez jus à fama mundial que ele tem. A delicadeza, o ponto do peixe e a crocância da massa fez a minha boca encher de água de novo, aqui mesmo na frente do computador. Muito bom, inacreditavelmente bom.
E a essa altura, já estávamos felizes como os personagens do filme A festa de Babette.
E ainda veio a sobremesa. Como tínhamos optado por um menu completo, podíamos escolher o que quiséssemos do carrinho de doces e do carrinho de queijos!
Achávamos que não conseguíamos mais comer, mas por incrível que pareça, com os intervalos entre um prato e outro e a qualidade da comida, que não pesava no estômago, comemos a sobremesa, os queijos e o café; perfeito.
E por fim, petit fours.
Fomos até lá comemorar o aniversário da minha caçula, que assim como eu, ama comer bem.
Quando souberam que era o seu dia, trouxeram um lindo bolinho, cantaram parabéns — muito simpáticos — e nos deram o bolo para levarmos para casa, que, pasmem, comemos de noite! E era dos deuses também.
Ainda como homenagem a um dia tão especial, nos convidaram para conhecer o chefe, a cozinha e a adega do Paul Bocuse.
Na verdade são duas adegas: uma no nível do restaurante com 20 mil garrafas. Outra, uma cave subterrânea com uma quantidade ainda maior. Vinhos de qualidade superior desde o mais simples ao mais requintado.
Ficamos encantados.
Saímos de lá saltitando de felicidade.
Como disse o ministro francês, Paul era mesmo a França, a síntese de um país tão rico culturalmente.
O filho de Bocuse continua a tocar o restaurante. Perdeu a estrela, não pela falta de qualidade do local, mas por algumas exigências de modernidades.
O fato é que restaurante é paixão. É ofício.
Como disse Alex Atala, não é um negócio para ganhar dinheiro apenas — até porque é bem complexo —, tem de haver paixão. Dar o sangue por ele.
E o restaurante Paul Bocuse é tudo isso. Uma experiência sublime de generosidade e de amor.
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